A ovinocultura e a caprinocultura têm crescido no país nos últimos anos, mas os criadores têm que lidar com uma ameaça constante: a cetose em caprinos e ovinos. Essa é uma enfermidade metabólica caracterizada pela queda na concentração de glicose e aumento excessivo dos corpos cetônicos.
Ela acomete fêmeas prenhes, no terço final da gestação – por isso, é também chamada de toxemia da prenhez. É de alta letalidade, ou seja, morrem tanto as fêmeas quanto suas crias. Neste artigo, saiba mais sobre a cetose em caprinos e ovinos, quais são os sinais clínicos e maneiras de prevenção.
O que é a cetose em caprinos e ovinos
Fêmeas gestantes apresentam uma demanda elevada por nutrientes, especialmente no terço final da gestação. Esta fase requer muita energia porque há maior desenvolvimento do feto – o que aumenta no caso de gestação múltipla.
A cetose é a consequência do desequilíbrio entre as taxas de gliconeogênese e o suprimento precursores da glicose. Ou seja, é uma tentativa falha da fêmea caprina ou ovina de atender as necessidades energéticas de seus fetos. Ela é considerada uma das principais causas de mortalidade de ovelhas e cabras no período pré-parto.
Existem alguns fatores que podem ser responsáveis pelo aumento da incidência da doença nos rebanhos. Alguns deles são:
- Alterações no plano nutricional durante os últimos meses de gestação;
- Parasitoses;
- Escore corporal;
- Gestações múltiplas;
- Qualquer fator estressante que diminua o apetite do animal, como alteração de manejo para transporte, vacinação, medicamento, tosquia e mudanças de ambiente.
Qual é a causa da cetose?
A glicose é de grande importância porque o organismo depende dela para a respiração das células. O cérebro, o córtex da adrenal e a retina são órgãos que dependem dela como fonte de energia.
O feto tem a glicose como principal fonte de energia para o seu desenvolvimento, que ocorre principalmente nas últimas semanas de gestação. É nesse período que a maior parte do suprimento energético da fêmea é direcionada para ele. E, quanto maior o número de fetos e mais próximo do final da gestação, maior a quantidade de glicose que a fêmea requer.
A principal fonte de glicose nos ruminantes é a gliconeogênese. Ela é formada por meio dos carboidratos provenientes da dieta, que são metabolizados em ácidos graxos voláteis de cadeia curta no rúmen. Um deles é o ácido propiônico, um dos principais precursores da glicose. Por meio de reações bioquímicas, ele dá origem ao oxaloacetato, que pode ser utilizado para formar glicose através da via gliconeogênica no fígado.
Quando o animal tem uma diminuição na ingestão de carboidratos, outras vias metabólicas são acionadas para a produção de energia. O fígado começa a mobilizar uma quantidade excessiva de gordura corporal que não consegue metabolizar, resultando assim no aumento da produção dos corpos cetônicos. Isso caracteriza um balanço energético negativo, o que ocasiona a cetose.
Os sinais clínicos da toxemia da prenhez
A cetose em caprinos e ovinos, também chamada de toxemia da prenhez, é uma doença de caráter agudo que tem sua manifestação clínica de forma brusca. Os primeiros sinais observados são anorexia, depressão e distúrbio do comportamento, que são compatíveis com a gravidade do caso.
Os sinais neurológicos incluem cegueira, andar em círculo, incoordenação, olhar perdido, tremores musculares e convulsões. Os animais ainda podem apresentar apatia, sonolência, perda de reflexo e inquietude.
Os animais evoluem para decúbito esternal após 3 a 4 dias, mas podem demonstrar sinais de melhora em caso de morte fetal. No entanto, a autólise do feto provoca recidiva, resultando em sua rápida deterioração, predispondo o animal a alterações sistêmicas e reprodutivas até o óbito.
As fêmeas morrem geralmente dentro de 6 a 7 dias. Os fetos que sobrevivem frequentemente nascem pequenos e fracos.
Como se dá o diagnóstico da cetose em caprinos e ovinos
O diagnóstico pode ser realizado laboratorialmente. Os exames revelam alterações significativas, porque a enfermidade é caracterizada por cetose, hipoglicemia e acidose metabólica.
O médico veterinário pode solicitar um hemograma, que pode vir aumentado por desidratação. O leucograma pode apresentar achados como neutrofilia, linfopenia e eosinopenia. Um exame bioquímico pode apontar acetonemia, cetonúria e hipoglicemia, que seria a dosagem abaixo de 30 mg/dl (o normal é em torno de 50 mg/dl).
Apesar da hipoglicemia ser um achado frequente, os animais podem – ou não – apresentar-se hipoglicêmicos.
Qual é o tratamento para a toxemia da prenhez
O diagnóstico precoce é essencial para que sejam instituídas as medidas terapêuticas para um tratamento eficaz. Ele será definido pelo médico veterinário de acordo com o quadro do animal.
Como a cetose em caprinos e ovinos é considerada uma enfermidade altamente fatal, a resposta ao tratamento só é possível se este for realizado precocemente. Assim, é possível evitar alterações neurológicas irreversíveis.
De modo geral, é necessário normalizar a glicemia caso o animal apresente hipoglicemia, combater a acidose e regularizar o equilíbrio metabólico. O veterinário pode decidir se deverá administrar o soro glicosado por via intravenosa – se usado de forma errada, pode agravar o caso.
A glicerina ou propilenoglicol vem como precursor da glicose, o ringer lactato ou bicarbonato para controle da acidose. É indicada a indução do parto ou cesariana para remoção dos fetos a fim de diminuir as demandas energéticas.
É possível prevenir a cetose em caprinos e ovinos?
Sim! E a prevenção é a melhor maneira de evitar a enfermidade no rebanho. Pode ser feito um plano nutricional adequado para evitar o balanço energético negativo. As fêmeas podem ser separadas por quantidade de fetos ou tempo de gestação para que sejam atendidas as exigências nutricionais do corpo materno e dos fetos.
É importante que seja feito o controle de parasitas que agem como um fator predisponente, assim como evitar fatores estressantes. A suplementação é usada para evitar o retorno da enfermidade: recomenda-se que as fêmeas recebam suplementação com ração rica em grãos.
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Referências:
LINZMEIER, Lissiane Geise. Toxemia da prenhez. REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA – ISSN: 1679-7353. Ano VII – Número 12 – Janeiro de 2009 – Periódicos Semestral. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/mvTOiRLlk4YAoKa_2013-6-21-16-9-33.pdf>. Acesso em 26/01/2021.
ASSIS, Lorena Campos. Toxemia da prenhez em ovelhas e cabras: revisão de literatura e relato de caso. Disponível em:<https://bdm.unb.br/bitstream/10483/21272/1/2015_LorenaCamposDeAssis_tcc.pdf>. Acesso em 26/01/2021.
SILVA, Nhayandra Christina Dias; et al. Cetose em pequenos ruminantes. Disponível em: <https://www.nutritime.com.br/site/wp-content/uploads/2020/02/Artigo-150.pdf>. Acesso em 26/01/2021.
COSTA, Ricardo Lopes Dias; et al. Toxemia da prenhez em ovelhas. Disponível em: <https://www.pubvet.com.br/uploads/d8e9eff6017c013bbaa8ec66e98d1307.pdf>. Acesso em 26/01/2021.
Tamires Lima
Estudante de medicina veterinária, apaixonada por animais e que atualmente trabalha na equipe técnica e de relacionamento com os clientes da Univittá Saúde Animal.
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