O Brasil atualmente possui um dos maiores rebanhos de equídeos do mundo, que é responsável por movimentar bilhões de reais anualmente na economia e gerar inúmeras vagas de empregos. Os animais são criados para diferentes finalidades como esportes, trabalho e lazer e ainda são exportados para outros países. As doenças causam prejuízos à equideocultura por perdas econômicas devido a mortalidade ou perdas reprodutivas.
A mieloencefalite protozoária equina (EPM), conhecida popularmente como bambeira equina, é uma enfermidade neurológica grave, não infecciosa causada pelo protozoário coccídeo Sarcocystis neurona, que pode acometer cavalos de qualquer idade. Os gambás são responsáveis por contaminar com as fezes os alimentos dos cavalos e devido ao desmatamento e destruição de seu habitat natural estes tem se locomovido com mais frequência em direção de propriedades como os haras em busca de alimento.
Etiologia
Os protozoários tem como hospedeiro definitivo os gambás (Didelphis virginiana e D. albiventris) que são comuns no meio rural. Eles eliminam o protozoário em suas fezes que pode contaminar os alimentos dos equinos. A enfermidade apresenta um comportamento sazonal por ocorrer com maior frequência durante as estações do ano de primavera e verão devido ao fato de que a umidade aumenta a viabilidade dos esporocistos no ambiente. Além disso, é estudado alguns fatores de risco associado a manifestação da doença como momentos de estresse fisiológico, sendo estes favorecidos pelos treinamentos intensos, a participação de provas de alta intensidade física como a corrida e até mesmo o período gestacional nas éguas.
Os cavalos são considerados hospedeiros acidentais, porque não transmitem o protozoário, eles se contaminam ingerindo oocistos do protozoário que no seu interior se rompem e liberam os esporocistos que penetram as células do endotélio no intestino e evoluir para sua forma infectante o merozoíto que conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e se alojar no sistema nervoso central. No ciclo desta enfermidade ainda há os hospedeiros intermediários responsáveis por auxiliar na distribuição do agente etiológico, e encontram-se nesta categoria algumas aves, tatus e outros marsupiais.
Sintomas Clínicos
Os sintomas de EPM não são específicos e exclusivos, inicialmente a sintomatologia clínica desenvolvida pelos equinos pode ser facilmente confundida com outras doenças neurológicas. Além do mais, os sintomas podem variar de acordo com a localização em que o protozoário se encontra alojado no sistema nervoso central. De forma geral os animais podem apresentar fraqueza, andar anormal como arrastar a pinça ao caminhar, paralisia do nervo facial e debilidade muscular.
Diagnóstico
Para o diagnóstico é necessário que o animal passe por um exame neurológico, exames laboratoriais como hemograma e bioquímica sérica não produz alterações consistentes, mas podem apresentar algumas anormalidades inespecíficas como linfopenia, aumento de bilirrubina sérica, ureia entre outros. Deve ser feito a coleta do líquido cefalorraquidiano (LCR) para análise, neste pode ser observado alterações de elevação de proteína total, mas não há outras como coloração, celularidade e turbidez. É realizado também no LCR a pesquisa de anticorpos do protozoário.
Tratamento
O tratamento consiste em eliminar o protozoário, reduzir a reação inflamatória e reparar os tecidos nervosos afetados, com administração de antimicrobianos que atuam diretamente sobre o parasita, como as sulfonamidas e pirimetaminas. A duração do protocolo terapêutico é longo sendo meses, mas pode variar de acordo com a melhora clínica do animal. Além disso, pode ser instituído no protocolo o uso de anti-inflamatórios, analgésicos e a suplementação vitamínica. Lembrando que apenas o médico veterinário é capaz de definir quais os melhores fármacos a serem instituídos para o quadro do animal, sendo que é diferente para cada caso.
Prevenção e Controle
Para prevenir que os cavalos sejam infectados é importante não permitir o seu contato com o hospedeiro definitivo, que são os gambás. Encontrar formas de evitar que estes entrem na propriedade e tenham acesso às baias dos animais, cochos e locais de armazenamento dos alimentos. É importante realizar a higienização periódica das baias, cochos, bebedouros e manter os alimentos em recipientes fechados para dificultar o acesso dos gambás.
Fontes:
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Tamires Lima
Estudante de medicina veterinária, apaixonada por animais e que atualmente trabalha na equipe técnica e de relacionamento com os clientes da Univittá Saúde Animal.
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