As aves são animais ideais para a realização da endoscopia graças à sua anatomia peculiar: praticamente há pneumatização fisiológica do celoma pela posição e distribuição dos sacos aéreos. Além disso, elas não possuem epiglote, o que torna o estudo da traqueia mais fácil.
Outros aspectos que também facilitam o estudo do trato digestivo superior são a existência do bucho em algumas espécies e a ausência de esfíncter da cárdia. Mas, quando é indicada a endoscopia em aves, quais são os procedimentos e técnicas mais comuns, qual tipo de endoscópio usar? É isso o que você vai ver no artigo de hoje.
Por que fazer endoscopia em aves e qual aparelho usar
Em clínicas de aves, o uso de endoscopia é descrito para procedimentos diagnósticos, biópsias de tecidos, tratamentos locais, intervenções cirúrgicas e, sobretudo, para a secagem de espécies monomórficas. O endoscópio pode ser utilizado para o exame visual de qualquer orifício que seja grande o suficiente para a inserção do instrumento.
Os procedimentos endoscópicos mais comuns são a laparoscopia e a traqueoscopia. A técnica é utilizada como uma ferramenta diagnóstica suplementar para detecção de inflamação, oclusão e de outras lesões.
Os instrumentos básicos para a realização da endoscopia são uma fonte de luz (150W), um cabo de fibra óptica e o endoscópio adequado.
- Endoscópio de 1,9 mm de diâmetro externo: é o mais fino que existe, bom para diagnósticos. Oferece excelente qualidade óptica e é ideal para pássaros com peso inferior a 100 g ou para regiões de pequenas dimensões.
- Endoscópio de 2,7 mm de diâmetro externo: recomendado para aves com peso entre 50 g a 4 kg. É o mais comum, fornece boa iluminação e bom tamanho de imagem. Muito utilizado para a manipulação de instrumentos de biópsia ou para tirar fotografias.
- Endoscópio de 4,5 mm de diâmetro externo: utilizado para aves com mais de 4 kg.
Em relação ao ângulo de visão da lente, é recomendado um ângulo de 30°, que garante melhora na visibilidade e reduz o trauma que envolve o impacto nos sacos aéreos e no peritônio durante a laparoscopia.
Como preparar a ave para a endoscopia
Antes de tudo, é preciso definir o protocolo anestésico. À exceção de casos muito isolados, todas as aves são anestesiadas com isoflurano 5% e manutenção de 1,5 a 2,5%. As aves são entubadas assim que se atinge um bom plano anestésico.
A administração é feita através do sistema T de Ayres modificado, no qual o fluxo de oxigênio se mantém em aproximadamente 3x o volume da frequência respiratória por minuto (600 ml/mim para aves de 1 kg). As aves com mais de 500 g podem ser monitoradas por oximetria de pulso.
Antes da laparoscopia, os animais são privados de comer por pelo menos três horas – sempre dependendo da espécie de ave e do tipo de intervenção. Se o procedimento a ser realizado é no sistema digestivo ou se for em uma ave que consome grande quantidade de comida, pode ser feito jejum de mais de 24h com objetivo de evitar vômitos e regurgitações.
As técnicas mais empregadas em endoscopias em aves
Há três técnicas que são mais empregadas para exames endoscópicos.
- Abordagem lateral esquerda a nível da fossa paralombar: trata-se da técnica classicamente utilizada para a realização da sexagem por laparoscopia. O paciente é colocado em decúbito lateral direito com as asas estendidas dorsalmente e o membro à esquerda na extensão caudal. O ponto de entrada se localiza cranialmente ao músculo iliotibial caudal até a última costela.
- Abordagem das cavidades peritoneais fígado ventral: das duas cavidades peritoneais pares, envolvendo o fígado, as ventrais são as mais desenvolvidas e aquelas de maior importância clínica. Ambas, a esquerda e a direita, são separadas pelo mesentério ventral. Apesar de ser possível uma abordagem hepática por outras vias, essa é a mais recomendada tanto para a visualização de lesões quanto para a realização de biópsias. É realizada uma incisão na linha média imediatamente caudal até a borda do esterno. A partir dessa abordagem, visualiza-se perfeitamente as superfícies ventrais do fígado, o mesentério ventral e o coração.
- Abordagem direta da cavidade peritoneal intestinal (CPI): consiste na entrada na CPI sem atravessar nenhuma parede do saco aéreo. Trata-se da via de opção para a realização de biópsia do rim. Pode ser realizada uma entrada direta através da cânula de trocarte em um ponto localizado ventral do ísquio e caudal ao púbis, enquanto o paciente está em decúbito lateral (direito ou esquerdo). Mediante esse método é possível o acesso direto ao intestino, às gônadas sexuais e ao rim.
A laparoscopia também pode ser empregada para a observação de outras estruturas, tais como o trato respiratório superior, a cavidade oral, o esôfago, a cloaca, entre outros. Mais artigos técnicos como esse você confere no blog da Univittá. Acompanhe!
Giovanna Caramori / Letícia Chahade
Estudantes de Medicina Veterinária, estagiárias da Univitta Saúde Animal
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