Este artigo faz uma síntese das informações e ideias geradas na mesa-redonda batizada de “Recomendações Atuais sobre o Uso da Silagem de Milho em Equinos”, um assunto de extrema relevância aos criadores e proprietários de equinos.
A mesa-redonda foi realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em abril de 2019, como parte do XIV Fórum de Gastroenterologia, que integra a XIX Edição do Simpósio Internacional do Cavalo Atleta (SIMCAV), uma iniciativa do Grupo Pesquisa EQUINOVA.
A programação contou com as seguintes temáticas:
“Fundamentos nutricionais para o uso da silagem de milho na alimentação em equinos: vantagens e desvantagens” - Prof. Vinícius S. Raposo (IFMG-Bambuí);
“Microbioma e metaboloma: novos conceitos” - Prof. Geraldo Eleno S. Alves (Equinova - UFMG);
“Disbiose em equinos alimentados com silagem” - Prof. Alexandre Gobesso (Labequi - USP);
“Síndrome metabólica em equinos” - Prof. Rafael R. Faleiros (Equinova - UFMG);
“Sanidade bucal associada ao uso de silagem em equinos” - Prof. Maurício Bittar (BittarVet).
Ao final, todos os apresentadores se reuniram juntamente ao Prof. Vinícius Pimentel (UFRRJ), sob a coordenação do Prof. Rafael Faleiros e contando com ampla participação da audiência.
Dentre as inúmeras considerações sobre a possibilidade de uso, indicações e segurança da silagem de milho como volumoso na alimentação de equinos nas atuais condições brasileiras, chegaram-se a 7 consensos importantes.
Os 7 pontos considerados sobre silagem de milho como volumoso
1) As condições climáticas limitantes para a constante oferta de forrageiras em quantidade e qualidade adequadas, a grande proporção de cavalos destinados ao trabalho nas fazendas de gado e as limitações financeiras para a criação em nosso País justificam a constante pesquisa e o desenvolvimento de fontes alternativas de alta disponibilidade e de baixo custo para a alimentação de equinos durante todo o ano – especialmente em períodos de escassez de alimentos volumosos.
2) A silagem de milho de planta inteira, por ser produzida com grande eficiência e em larga escala para alimentação de ruminantes nas condições nacionais, tem sido cada vez mais utilizada como fonte alternativa de alimentação para equinos.
3) A silagem de milho de planta inteira, apesar de ser uma forragem de alto valor energético e de baixo custo de produção, possui em sua constituição vários fatores negativos para o uso como alimento em equinos. Entre eles estão:
a. Alta concentração de amido. b. Baixa concentração de proteína. c. Relação inapropriada entre cálcio e fósforo. d. Baixo teor de vitaminas, que se degradam no processo de conservação. e. Necessidade de ambiente anaeróbico para conservação adequada e, assim, evitar desenvolvimento de patógenos. f. Alta carga de microrganismos sujeita à alta variabilidade de acordo com a matéria-prima e sua forma de processamento e conservação. g. Facilidade para desenvolvimento de fungos e consequente contaminação com micotoxinas. h. Baixo pH. i. Variabilidade na aceitação e palatabilidade. j. Custo variável, que pode ser comparável até mesmo ao do feno quando a silagem é adquirida ensacada, em quantidades menores, como tem sido praticado no mercado.
4) A silagem de milho apresenta crescente corpo de evidências científicas nas características dos equinos, tornando-se um alimento de alto risco para essa espécie. Entre esses riscos, podemos citar:
a. Alto risco de desenvolvimento de obesidade e resistência insulínica, quando expostos a dietas com alto teor de carboidratos não fibrosos. Isto acarreta em risco aumentado de laminite endocrinopática.
b. Menor ação da amilase pancreática equina sobre o amido de milho, que pode superar a capacidade de digestão no intestino delgado.
c. Elevado risco de disbiose intestinal em dietas ricas em amido, com destaque para redução de pH e aumento na produção de gás. Isto implica em risco aumentado da ocorrência de clostridioses, enterite anterior e colite.
d. Grande susceptibilidade do equino em desenvolver inflamação sistêmica frente ao desenvolvimento de infecções e intoxicações por microrganismos e seus componentes. Isto implica em maior risco de laminite relacionada à sepse.
e. Grande susceptibilidade dos equinos a micotoxinas. Maior risco de sintomas sistêmicos, maior risco de redução da imunidade, que vem sendo comumente observada em co-contaminações.
f. Alta susceptibilidade do equino a alterações gastrointestinais, que induzem síndrome cólica. Risco de complicações maiores como laminite pós-cólica.
g. Potencial para lesões diversas em peças dentárias, indução de cáries periféricas e desgaste prematuro dos dentes devido ao baixo pH do alimento.
h. Alta susceptibilidade do equino para gastrite. A influência do baixo pH da silagem de milho ainda não está bem determinada.
i. Alta susceptibilidade dos equinos a desenvolvimento de alterações metabólicas, devido aos desequilíbrios na relação de energia/proteína e cálcio/fósforo, como:
- Síndrome metabólica equina;
- Osteodistrofia fibrosa;
- Osteocondrose e outras doenças articulares;
- Desvios angulares e flexores;
j. Crescentes evidências científicas de que a obesidade e o desbalanço mineral nas éguas (incluindo receptoras) se refletem negativamente no desenvolvimento fetal e na maior ocorrência de doenças ortopédicas em potros. k. Alta susceptibilidade dos equinos em desenvolver alterações comportamentais. O menor tempo de ingestão de silagem em comparação ao feno pode aumentar o risco de desenvolvimento de estereotipias associadas a estresse crônico.
5) Em conclusão, analisadas todas as vantagens e desvantagens que se apresentam no momento, NÃO existem elementos racionais, técnicos e/ou científicos para que a silagem de milho seja indicada ou prescrita como fonte alimentar rotineira de equinos de criação e esporte, especialmente aqueles de alto desempenho. Em situações especiais, principalmente no que concerne à carência ocasional de outras fontes de forrageiras, seu consumo temporário – e sob supervisão técnica – pode ser considerado.
6) Este parecer não pretende aqui, de forma alguma, desqualificar técnicos e criadores que fazem a opção pelo uso da silagem de milho em equinos. Mas sim alertá-los, à luz das melhores evidências disponíveis, dos riscos de seu uso na forma com que vem sendo feito, ou seja, em busca apenas de uma alternativa alimentar menos onerosa e/ou capaz de produzir equinos obesos.
7) Finalmente, esta comissão afirma ainda sua inabalável confiança na ciência a ponto de entender que a silagem de milho, como volumoso de alto teor energético e baixo custo, poderá ainda se tornar uma alternativa viável para uso rotineiro na alimentação de equinos, desde que devidamente utilizada como ingrediente de dietas formuladas, com base em novas tecnologias a serem desenvolvidas, em forma de processos e produtos e que superem as limitações e restrições de seu uso aqui relatadas.
NOTA UNIVITTÁ
Inúmeros produtos que existem no mercado auxiliam ou atenuam alguns desses malefícios citados da silagem de milho para cavalos. Objetivando a saúde intestinal, a Univittá tem em sua linha três deles.
O MOS é um aditivo prebiótico que tem ação de adsorção das micotoxinas; o Pro-SACC é um aditivo probiótico que proporciona o aumento da digestibilidade da dieta total do animal, incluindo das fibras da silagem – e é o mais vendido para equinos no Brasil
Por fim, o NEW ALGAS é uma fonte nobre de cálcio que atua como tamponante ajudando a neutralizar um pouco a acidez desse tipo de dieta.
Saúde intestinal é de extrema importância e independe da categoria animal. Todos os fatores acima devem ser ponderados antes de aderir a essa ou a aquela dieta.
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Participantes da mesa-redonda:
Vinícius Silveira Raposo (vinicius.raposo@ifmg.edu.br), Prof. Adjunto de Nutrição Animal e Forragicultura, IFMG Bambuí.
Geraldo Eleno Silveira Alves (geufmg@gmail.com), Prof. Titular de Clínica Cirúrgica, Equinova – UFMG
Maurício José Bittar (bittarvet@uol.com.br), Prof. Especialista de Odontologia Equina, IBVET e Fundador da BittarVet
Vinícius Pimentel Silva (pimentelzootec@gmail.com), Prof. Associado de Nutrição Animal, UFRRJ
Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso (gobesso.fmvz@usp.br), Prof. Doutor de Nutrição Animal e Saúde Digestiva, LabEqui – USP
Rafael Resende Faleiros (faleirosufmg@gmail.com), Prof. Titular de Clínica Cirúrgica, Equinova – UFMG
Prof Dr. Alexandre augusto de Oliveira Gobesso Médico Veterinário - Universidade Estadual de Londrina – 1988 Mestre em Medicina Veterinária/Nutrição Animal - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia /USP – 1997 - Doutor em Zootecnia/Produção Animal Fac. de Ciências Agrárias e Veterinárias/Unesp/Jaboticabal/SP – 2001 Livre Docente - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia /USP – 2009 Professor Responsável pela Disciplina: Produção de Equinos - Curso de Medicina Veterinária Professor e Orientador - Mestrado e Doutorado na Área de Nutrição e Produção Animal - Pesquisador Responsável - Laboratório de Pesquisa em Saúde Digestiva e Desempenho de Equinos - Departamento de Nutrição e Produção Animal - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/USP - Campus de Pirassununga/SP
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